sexta-feira, 20 de maio de 2011

Morte de operários deixou viúvas com dificuldades económicas



As famílias dos dois operários da empresa Metalovera, colhidos mortalmente por um comboio, no dia 20 de Julho de 2005, quando trabalhavam na Ponte de Arzila, na Linha do Norte, junto à vila de Pereira, sofreram traumas psicológicos, mas também económicos e sociais, com o falecimento dos seus parentes.
As testemunhas ontem ouvidas no Tribunal de Montemor-o-Velho, em mais uma sessão do julgamento de cinco arguidos - de vários responsáveis do dono de obra (Refer Telecom), empreiteiro (Painhas) e sub-empreiteiro (Metalovera) - referiram a precariedade social repentina, sentida pelas duas viúvas, privadas dos rendimentos dos respectivos companheiros, o que terá dado origem a alterações profundas nas suas vidas, assim como dos filhos que ambas já tinham.
A primeira pessoa a testemunhar foi um comerciante de Santa Luzia, concelho da Mealhada, que tem o seu estabelecimento «a cerca de 200 metros» da casa onde vivia o operário Joaquim da Cruz Silva, falecido na Ponte de Arzila.
Ao tribunal declarou que, antes do acidente, havia «uma família unida, sem dificuldades económicas», frisando que, na sua casa comercial, «não tinham dificuldades em pagar e nunca compraram a crédito».
A testemunha disse ainda que, após o falecimento do operário, «facilitámos» o crédito à viúva, que agora deve mais de 200 euros, tendo ido viver para o Alentejo, «junto de uma tia».
O homem referiu que, nas alturas mais difíceis, e uma vez que o filho da vítima «é da idade do meu neto», chegou a convidar a criança para tomar refeições em sua casa, frisando ainda que «era uma criança alegre e muito unido ao pai» situação que diz ter-se alterado após o acidente. Segundo a testemunha, a viúva terá tentado encontrar trabalho junto dos muitos restaurantes da zona, mas sem sucesso.

A dormir na sala
da casa dos pais
Esta mulher, não tinha profissão, participando apenas em negócios de automóveis usados, com que o marido complementava o seu salário como serralheiro mecânico.
A sua situação é semelhante à da viúva do chefe de equipa, Pedro Miguel Moço Gomes, e que não trabalhava há vários anos, desde que se haviam mudado de Anadia para Tavarede, na Figueira da Foz, terra natal do falecido.
As seis testemunhas que ontem falaram sobre o casal, por teleconferência, a partir de Anadia, coincidiram no discurso, ou complementaram-se, referindo que o casal, que não casou oficialmente, conheceu-se na empresa Sanitana, onde ela trabalhava, e ele prestava serviço pela Metalovera.
Tanto colegas como amigos definiram Pedro Moço como um bom profissional e muito trabalhador, que complementava o seu salário, de mais de mil euros, com horas extraordinárias e biscates que fazia em casa.
Referiram as testemunhas que a viúva deixou de trabalhar quando tomaram a decisão de viver em Tavarede, em casa dos pais do falecido, onde criavam um filho que completou quatro anos pouco tempo depois da morte do pai.
O acidente, a fazer fé nos testemunhos ontem prestados, ditou uma reviravolta na vida da mulher e da criança, agora com 10 anos, uma vez que coincidiu com outra situação familiar que os obrigou ao regresso a Anadia, onde passaram a viver com mais quatro pessoas num T2.
Na casa, viviam dois irmãos e os pais da viúva, o que obrigou mãe e filho a dormirem na sala, sendo que os recursos financeiros também não eram abundantes.
Hoje, segundo uma vizinha e amiga de infância, a mulher está em fim de contrato num lar de idosos de Aguim e reside com o filho numa casa alugada, recebendo subsídio de renda.
Ainda assim, disse a amiga, mãe e filho terão mudado de personalidade, recusando a mulher, ainda nova, encetar qualquer tipo de relação amorosa. O rapaz, por seu turno, continua a chorar com saudades do pai, com quem tinha uma grande ligação.

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